Indianismo
A figura idealizada do índio nobre e corajoso, em
comunhão com a natureza e amigo do colonizador, foi forjada por escritores brasileiros,
no auge do romantismo idealista de meados do século XIX. Movimento literário
que mobilizou o Brasil nas décadas de 1850 e 1860 e estendeu-se pela América
Latina, o indianismo nasceu de um nacionalismo em busca de identidade própria e
encontrou no índio seu herói mítico.
O movimento caracterizou-se também por tentar
diferenciar a língua literária brasileira, a partir da rejeição de normas
gramaticais e literárias portuguesas. Proclamada a independência, o Brasil
continuava a ser a mesma sociedade agrícola e escravocrata que importava desde
produtos acabados até moda e cultura. No campo das idéias o modelo era a
França, e o "nobre selvagem", de Jean-Jacques Rousseau teve
influência na formação do indianismo. Elemento autóctone, que lutara contra o
colonizador, o índio era o símbolo perfeito para a nacionalidade nascente, e
podia ser glorificado sem risco de estimular rebeldias, pois além de já ter
sido repelido para fora das áreas civilizadas, não ocupava posição
significativa na produção econômica. Podia assim prestar-se à metáfora do
romantismo ressentido e regressivo contra a realidade burguesa, que idolatrava
o dinheiro e mostrava-se indiferente à sensibilidade romântica.
Na
Europa, o Romantismo foi buscar seu herói nos cavaleiros medievais. No Brasil,
o herói cavaleiro não poderia existir, pois não houve Idade Média; os
portugueses também não poderiam ser os heróis, pois o Brasil acabara de
conquistar sua independência, mantendo, por essa razão, ressentimentos em
relação aos portugueses; muito menos os negros, vindos da África, pois o
pensamento da época não permitia isso. Restaram os índios, a população que
habitava o país antes da conquista européia.
Alguns escritores Indianistas:
Gonçalves Dias (1823-1864) foi o primeiro a abordar o
indígena como um herói nacional. É importante ressaltar que o poeta sentia
efetiva simpatia pelo tema indianista, também por ter sangue indígena correndo
em suas veias e ter vivido parte da infância em contato com os índios. Essa
mesma etnografia e pela língua tupi-guarani, percorrendo a Amazônia em missão
de estudos e escrevendo um dicionário tupi. Ao contrário de José de Alencar,
que olhava com simpatia o branco colonizador, Gonçalves Dias via o europeu como
símbolo do terror e da exploração do índio. Algumas obras do autor são como
exemplo, “I-Juca-Pirama”, “Deprecação’
e “Canto do piaga”.
No
romance indianista de José de Alencar (1829-1877), o índio é visto em três
etapas diferentes: antes de ter contato com o branco, em “Ubirajara”; um branco
convivendo no meio indígena, em “Iracema” e o índio no cotidiano do homem
branco, em “O Guarani”. É dentro do estilo indianista do escritor José de
Alencar que está sua obra mais importante: Iracema. Outra obra também
considerada de grande valor literário é O Guarani, pois aborda os aspectos da
formação nacional brasileira.
Regionalismo
O
regionalismo tem uma tradição de quase 150 anos na literatura brasileira.
Surgiu em meados do século 19, nas obras de José de Alencar, de Bernardo
Guimarães, de Alfredo d'Escragnole Taunay e de Franklin Távora e pode-se dizer
que há textos de cunho regionalista em nossa literatura até o final do século 20.
Pode-se dizer que as obras do século 20 são os grandes textos do regionalismo
no Brasil. Entretanto, para se chegar a expoentes como José Lins do Rego,
Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Guimarães Rosa, o gênero percorreu um
grande caminho, cujas raízes estão na época do romantismo, como foi o caso da
obra de José de Alencar.
Em
primeiro lugar cabe esclarecer que, por regionalismo, entende-se a literatura
que põe o seu foco em determinada região do Brasil, visando retratá-la, de
maneira mais superficial ou mais profunda. Os primeiros autores do gênero não
focalizavam propriamente uma região, no sentido geográfico, não visavam mostrar
a vida no sertão do Nordeste, ou de São Paulo ou do Rio Grande do Sul.
Os
autores dos romances regionalistas começaram as suas carreiras publicando suas
obras primeiramente na forma de folhetins. Conforme o interesse do público
crescia, eles juntavam os capítulos e os organizam em um livro, acrescentando a
ele somente a sua origem. A maior parte dos romances publicados em língua
portuguesa tinha suas origens vindas de Portugal, mas os autores brasileiros
contribuíram para a criação de obras com as suas próprias características.
Os
romances regionalistas eram geralmente dedicados aos moradores de classe média
dos centros urbanos, como o Rio de Janeiro. Alguns romances tinham trechos que
ajudavam os leitores a compreender por que o brasileiro rural não tinha gosto
para os romances românticos, já que viviam distantes das influências européias
e não viam o conhecimento como algo precioso e necessário, mas como algo
perigoso. Além disso, muitos deles associavam os livros a má influencia que
estes poderiam ter sobre as moças de família.
Nos
romances regionalistas, o território nacional era apresentado de forma
idealizada. Os autores tentavam criar uma imagem grandiosa do Brasil através
dos cenários que apareciam nesse tipo de narrativa. A partir das
características geográficas brasileiras, conseguimos perceber a imensidão dos
pampas gaúchos, os aspectos exóticos do interior de Minas Gerais e a natureza
única do sertão nordestino.
Alguns escritores regionalistas:
Franklin Távora (1842-1888) foi um grande defensor do
regionalismo, acreditava na visão separatista das culturas brasileiras (norte e
sul). Desse modo, dava importância à necessidade do conhecimento das diferentes
regiões para escrever sobre elas. Por conta disso, criticava a produção de
Alencar, que, segundo ele, abordava o Brasil como um todo e, portanto não era
digno de imprimir um caráter nacional. A maioria de suas obras se passavam em
Pernambuco durante o século XVIII e revelavam elementos desconhecidos sobre o
norte.“Proclamo uma verdade irrecusável. Norte e sul são irmãos, mas são dois.
Cada um há de ter uma literatura sua, porque o gênio de um não se confunde com
o de outro.”
Visconde de Taunay (1843-1899) é reconhecido como o mais
equilibrado dos românticos regionalistas pelo seu senso de observação e análise
e grande conhecimento das terras brasileiras. Desse modo, não dá grande
importância aos sentimentos, sendo o mais realista possível. Em suas obras se
caracteriza pela presença do falar colonial, o que as torna naturais e
populares. Por ser tradicional, dá muito valor à honra e outros valores
europeus.“Quando o sertanejo vai ficando velho, quando sente os membros
cansados e entorpecidos, os olhos já enevoados pela idade, os braços frouxos
para manejar a machadinha que lhe da o substancial palmito ou o saboroso mel de
abelhas, procura então quem o queira para esposa, alguma viúva ou parente
chegada, forma casa e escola, e prepara os filhos e enteados para a vida
aventureira e livre que tantos gozos lhe deram outrora.” - trecho de Inocência.
Conclusão:
Tanto o
indianismo e o regionalismo foram importantes para a literatura brasileira:
enquanto no indianismo construía a imagem do herói e desenvolvia a imagem do
Brasil, o regionalismo demonstra a vida das pessoas de diversas regiões do
País.
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